quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Vazio

De um vazio inexplicado
Marcado num fundo branco
Sobrou um tudo vazio
Que se esqueceu no meu peito
Cravado sem faca nem nada
Que lhe desse explicação
De um cego mundo que é novo
Levando uma vela na mão
Que iluminava ao contrário
Calando, sentindo frio
Aumentando ao invés o buraco
Um mundo sem mundo
Vazio.

Nem cheiro, nem urro, nem rasgo
Principalmente nem cor
Que perdem sentido as palavras
E as línguas (sobretudo os versos)
Mundo sem mundo
Um só sentido o diverso.

Abrindo-se rumo ao infinito
Fecha o escuro em mim
De fora pra dentro
Pesado
De fora pra dentro pesado
Fecha o escuro sobre mim
Abatendo-se na forma
Deformando
Inexistindo.

Nem mesmo as crianças têm medo
Nem elas talvez nem percebam
As negras as brancas as feias
Negro, se tornam, escuro.
O Altiplano dos Andes, o Pacífico, o Báltico
Todo e qualquer horizonte
Ou um palmo do nariz
Tornado pra dentro das gentes
E revertido pra fora
Tornado o mundo e tudo mais que o habita,
Vísceras
Escuro.

Um mundo de nossas entranhas
E do Fonseca e da Glorinha
Onde nem nós caberíamos
Elas absolutas
Nem más nem boas, as entranhas
Nem mesmo nem coisa nenhuma
Habitasse sem mais esse mundo
E soberanamente e num silêncio tremendo
Não sei definir no momento
Se só imperava tristeza
Ou se desesperava
Um mundo da minha excrescência
Convivendo com o do teu tormento
A tristeza toda do mundo
Gritada em um só lamento
Repleta do nosso vazio
Do perdido esquecimento
Da estupidez e da esperança
Nossos antolhos e nossos ungüentos
E as coisas nossas nenhumas
Que são a maioria das coisas
Nos dessem a real dimensão
Do resto e do pouco que somos
Frente a nossa escuridão.

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