quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Vingança
Há uma anti-tendência
um repuxo
no meu peito
desde sempre
uma tristeza
que dói fina.
Por outro lado
contrapõem-se
uma grandeza de amor
um vício de alegria e encontro
de carnaval furor
de pecado
que talvez seja uma espécie
secreta
de vingança.
Que contra mim
me levará além.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Filho e Futuro
Em meio à decadência dos sentidos
e das sensibilidades.
Em meio ao tédio e à correria.
À fumaça ao óleo -
dois olhos
em enchente
derramam o futuro.
Aos tiros,
aos sangues.
Ao sentimento precoce de guerra.
À inviabilidade.
Meu filho sorri e chora.
E através de explicações sem casca
me reensina o mundo.
Em meio a minha própria opacidade
à contaminação.
À guerra de classes
e às suas responsabilidades.
Combatemos Orks com peidos
e rimos do Dom Quixote como do Pica-páu.
Anunciamos
irmanados
a potência
a vida
o futuro
de amor e entendimento
que virá.
sábado, 19 de setembro de 2009
Presença de Espírito
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
A mais bonita
A moça mais bonita
Aquela que não se compara
Nem se toca
Dos olhos
Nem com a mão
Segue aflita
A mais bela do mundo
Segue e some
Fugindo
Do medo de eu lhe dizer
De lhe contar
O meu desejo, moça
O meu cinismo
E a violência deles
Ainda te pegam por aí
Num cheiro
Num ponto
Numa rima.
E se te encaro bem nos olhos
No meio do rebolado deles
Te beijo
Te toco os cabelos
Mas somes
A moça mais bonita do mundo
Do mundo
E não dos dedos.
Descobrindo o soneto
A forma de um soneto não é à toa
Estampido genial de algum possesso
Às asas de um pássaro que voa
Somam-se milênios de um processo
Tampouco poderia atribuir
Sua forma a um engenho natural
O canto que assobia o bem-te-vi
Um lá, mas outro em meu quintal
Escritas ou faladas, as palavras
Catorze versos de maneira intercalada
A terra tão já pronta que não lavras
Saem belas da maneira mais cantada
Não importa se um canário ou se o Hermeto
Nada como a forma pura de um soneto.
Estampido genial de algum possesso
Às asas de um pássaro que voa
Somam-se milênios de um processo
Tampouco poderia atribuir
Sua forma a um engenho natural
O canto que assobia o bem-te-vi
Um lá, mas outro em meu quintal
Escritas ou faladas, as palavras
Catorze versos de maneira intercalada
A terra tão já pronta que não lavras
Saem belas da maneira mais cantada
Não importa se um canário ou se o Hermeto
Nada como a forma pura de um soneto.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Súbito
Súbito e sobressaltado
Busquei em mim um meio de conter-me
Inconsciente e cônscio
De que o devir não poderia
(Alheio a mim)
Vir de onde viesse
Embriaguez
Lúcida, trêmula e intermitente
Comoção lenta do mundo
Vagueza dos meus olhos e das gentes
Os meus e os seus sentidos
Frente a frente
Afrouxada
A realidade em meu pescoço
Desavexadas as palavras me saindo
Berros e gritos e silêncios e murmúrios
Cada uma falando como sendo
Alegria até na minha tristeza
E tristeza um pouco em meu sorriso
Que fosse só sinceramente
Pitadas, gotas de eu imenso.
De quando em quando
a dor, só, me valeria
Mas dentro de uma calma extrema.
Grudado na memória
Na saudade
Numa idéia fixa
Por exemplo, de doença ou morte
Ou de amor
Mas só doesse
Não inquietasse.
Embriaguez
Das sete à meia noite
Às vezes até cinco da manhã
Mas tão natural e intermitente
Que se não tê-la sentiria-me anormal
Tênue e retilínea embriaguez
Fazendo o mundo literal
Literatura
O rei, eu, você, ana, leões, fantasmas, vasos de flores
Literatura.
E na manhã seguinte e noite toda
Novamente.
Soneto de Tudo ao avesso ou Espinozeando
E se o ao contrário de tudo e o avesso
Elevado ao finito ao contrário
Um todo mundo sem fim nem começo
Levasse a menor parte ao planetário
O mínimo elevado ao extremo e imenso
Um grão de poesia mero e gigante
Quanto mais eterno mais denso
Pulga no palheiro, nós dois no horizonte
E se for assim ermo e contrito
Quanto mais pra dentro dou um grito
Vai te sacudir meu companheiro
Quanto mais ao invés do restrito
Juntar-mos o detalhe ao inteiro
Síntese do menor no infinito.
A outra
Te confesso
Eu amo uma moça escondido
E amo demais essa moça
Secreto um convívio de ti
E nos teus olhos o dela
Reflete um sorriso pra mim
Não chores,
tampouco me olhes assim
pois quando me olhas a moça
duplica teu sofrimento
e sofre por causa de ti.
E a moça é mais do que um espelho
Mais que retrato de si
Eu amo demais essa moça
E tudo às custas de ti.
tiro teu cabelo do rosto
e ela quem está ali.
Eu dou um sorriso pra ela
E é você quem me sorri.
E se tu saísse da mente
Fugisse,
Deixasse-me aqui
Seria jogada de mestre
A esquivar a outra de mim.
Subjuntivo ou dramático
Restavam alguns dias na vida
Antes que ela não ligasse
Ou não dissesse que vinha
Ou simplesmente não viesse
Se eu não pensasse nela
Fingisse que não a via
Cruzando nalguma avenida
No meio de meu pensamento
Eu vivia mais brando
Mas nas tripas que escorrem da espera
Envolvo minh’alma e o pescoço
E sonho e me enrosco nas canelas
Na morte e beleza daquela
Se eu vivesse a certeza
De que ela nunca ligasse
Ou não me esperasse num ponto
De ônibus do meu disparate
Eu desistia da espera
Parava de andar de ônibus
E ou amava outra mulher
Mas se de fato acontece
E a tal daquela me esquece
Ligando-me de repente
Dizendo-me umas e outras
E entre estas que não quer mais
Tranco-me um mês num quarto
Mato primeiro minha alma
(que é pra não sofrer profundo)
irado Subo num prédio
Passo do sétimo andar
E me taco
Juro que me taco.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Duas emendas e um soneto (a Três poetas)
À Mário Quintana embolado numa pedra
Aquém
Me dirijo
Sigo sem resposta
Rumo ao menos
E ao sozinho.
Muro
Dos passos que parei.
Dos tiros que errei
Passarinho.
Vinicio
De manhã emudeço
De dia calo
De tarde recomeço
De noite amargo
Soneto ao demo
Olhando as letras mortas do teclado
Esperando ainda o auspício mais profundo
E mesmo assim chegasse inesperado
Desesperando a máquina do mundo
E eu que não mentei de forma alguma
Geral e ambiciosa explicação de tudo
De tantas situações só pensei uma
A máquina entreabrindo-se no absurdo
Achei em Minas vertigens deliciosas
Deixei pra trás os motivos da minha vida
Fugiu de mim a poesia perseguida
Palmilhei por estradas pedregosas
Acreditei em um motivo extremo
Carlos Drummond de Andrade poeta e demo
A aventura de um esposo e uma esposa
Belíssimo texto do brilhantíssimo Ítalo Calvino
O operário Arturo Massolari fazia o turno da noite, aquele que termina às seis. Para voltar para casa percorria um longo trajeto, de bicicleta na estação boa, de bonde nos meses chuvosos e frios. Chegava entre as seis e quarenta e cinco e as sete, ou seja, às vezes um pouco antes, às vezes um pouco depois de tocar o despertador da mulher, Elide.
Freqüentemente os dois ruídos, o toque do despertador e o passo dele entrando, se superpunham na mente de Elide, alcançando-a no fundo do sono, o sono compacto da manhãzinha que ela ainda tentava espremer por alguns segundos com o rosto enfiado no travesseiro. Depois pulava fora da cama de uma vez só e já ia metendo os braços às cegas no roupão, com os cabelos por cima dos olhos. Aparecia assim para ele, na cozinha, onde Arturo tirava os recipientes vazios da bolsa que levava consigo para o trabalho – a marmita, a garrafa térmica – e os punha em cima da pia. Já havia acendido o fogão e posto o café no fogo. Mal ele a olhava, Elide sentia vontade de passar a mão pelos cabelos, de arregalar à força os olhos, como se a cada vez se envergonhasse um pouco dessa primeira imagem que o marido tinha dela ao entrar em casa, sempre assim desarrumada, com a cara meio adormecida. Quando dois dormem juntos é outra coisa, encontram-se de manhã a emergirem juntos do mesmo sono, estão em pé de igualdade.
Já às vezes era ele que entrava no quarto para despertá-la, com a xicarazinha de café, um minuto antes que tocasse o despertador; então tudo era mais natural, a careta para sair do sono ganhava uma espécie de suavidade preguiçosa, os braços que se erguiam para se estirar, nus, acabavam cingindo o pescoço dele. Abraçavam-se. Arturo trazia no corpo a jaqueta impermeável; sentindo-o próximo, ela percebia o tempo que estava fazendo: se chovia ou havia bruma ou neve, dependendo de como ele estava úmido e frio. Mas assim mesmo dizia: “Que tempo está fazendo?”, e ele iniciava seu costumeiro resmungo meio irônico, passando em revista os incômodos que tinha atravessado, começando pelo fim: o percurso de bicicleta, o tempo que encontrara ao sair da fábrica, diferente daquele de quando lá entrara na noite anterior, e as encrencas no serviço, os boatos que corriam na seção, e assim por diante.
Àquela hora, a casa estava sempre pouco aquecida, mas Elide se despia toda, um pouco arrepiada, e se lavava, no pequeno banheiro. Atrás vinha ele, com mais calma, também se despia e se lavava, lentamente, tirava de cima a poeira e a graxa da oficina. Assim, estando ambos em torno da mesma pia, meio nus, um pouco enregelados, de vez em quando se dando esbarrões, tirando um da mão do outro o sabonete, o dentifrício, e continuando a dizer as coisas que tinha para se dizer, era o momento da intimidade, e às vezes, acontecendo de se ajudarem mutuamente a esfregar as costas, insinuava-se uma carícia, e se encontravam abraçados.
Mas de repente Elide: “Meu Deus! Que horas já são!”, e corria para meter as ligas, a saia, tudo com pressa, em pé, escovava os cabelos para cima e para baixo, e debruçava o rosto para o espelho da cômoda, com os grampos seguros entre os lábios. Arturo vinha atrás dela, havia acendido um cigarro, e olhava para ela em pé, fumando e a cada vez parecia um pouco embaraçado, de Ter que ficar ali sem poder fazer nada. Elide estava pronta, enfiava o casaco no corredor, davam-se um beijo, abria a porta e já se ouviam seus passos que desciam a escada correndo.
Arturo ficava sozinho. Acompanhava o ruído dos saltos de Elide degraus abaixo, e quando não a ouvia mais continuava a acompanha-la em pensamento, aquele passo miúdo, rápido pelo pátio, o portão, a calçada, até o ponto do bonde. Já o bonde se ouvia bem: guinchar, parar, e o bater do estribo a cada pessoa que subia. “Pronto, tomou”, pensava, e via a mulher se segurando no meio da multidão de operários e operárias no “Onze” que a levava para a fábrica todos os dias. Apagava o cigarro, fechava os postigos das janelas, ficava escuro, metia-se na cama.
A cama estava como Elide a deixara ao se levantar, mas do lado dele, Arturo, estava quase intacta, como se tivesse sido arrumada naquele momento. Ele se deitava de seu próprio lado, como devia, mas depois esticava uma perna para lá, onde havia ficado o calor da mulher, em seguida esticava também a outra perna, e assim pouco a pouco se deslocava todo para o lado de Elide, naquele nicho de tepidez que ainda conservava a forma do corpo dela, e afundava o rosto em seu travesseiro, em seu perfume, e adormecia.
Quando Elide voltava, à noite, Arturo já havia um tempo rodava pela casa: tinha acendido a estufa, posto alguma coisa para cozinhar. Certos trabalhos ele é que fazia, naquelas horas antes do jantar, como arrumar a cama, limpar um pouco a casa, até pôr de molho as roupas para lavar. Elide depois achava tudo mal feito, mas ele para dizer a verdade não se empenhava muito: o que fazia era apenas uma espécie de ritual para esperar por ela, quase um vir ao se encontro permanecendo entre as paredes da casa, enquanto lá fora se acendiam as luzes e ela passava pelas vendas no meio daquele movimento fora de hora dos bairros onde há tantas mulheres que fazem compras à noite.
Afinal ouvia o passo pela escada, bem diferente daquele de manhã, agora mais pesado, pois Elide subia cansada do dia de trabalho e carregada de compras. Arturo saía no patamar, tirava da mão dela a sacola, entravam conversando. Ela se jogava numa cadeira na cozinha, sem tirar o casaco, enquanto ele ia tirando as coisas da sacola. Depois: “Coragem, um pouco de ordem”, ela dizia, e se erguia, tirava o casaco, punha uma roupa de casa. Começavam a preparar a comida: jantar para os dois, depois a marmita que ele levava para a fábrica para o intervalo da uma da madrugada, o lanche que ela devia levar para a fábrica no dia seguinte, e o que era para deixar pronto para quando ele acordasse no dia seguinte.
Ela um pouco se atarefava, um pouco se sentava na cadeirinha de palha e dizia a ele o que tinha de fazer. Já ele, era a hora em que estava descansado, agitava-se, aliás, queria fazer tudo, mas sempre um pouco distraído, com a cabeça já em outra coisa. Naqueles momentos ali, chegavam por vezes ao ponto de se magoarem, de se dizerem palavras pesadas, por que ela queria que ele estivesse mais atento ao que estava fazendo, que se empenhasse mais, ou então que fosse mais ligado a ela, ficasse mais perto, que a consolasse mais. Enquanto ele, passado o primeiro entusiasmo da volta dela, já estava com a cabeça fora de casa, fixado no pensamento de fazer tudo com pressa porque tinha que ir.
Arrumada a mesa, postas todas as coisas prontas ao alcance da mão para não precisarem mais se levantar, então era o momento da angústia que tomava conta dos dois por terem tão pouco tempo para estarem juntos, e quase não conseguiam levar a colher à boca, da vontade que sentiam de ficar ali segurando a mão um do outro.
Mas o café ainda não havia acabado de passar e já ele estava atrás da bicicleta vendo se estava tudo em ordem. Abraçavam-se. Arturo parecia que só então reparava como era macia e tépida sua esposa. Mas punha no ombro o quadro da bicicleta e descia atento as escadas.
Elide lavava os pratos, examinava a casa de cima a baixo, as coisas que o marido tinha feito, sacudindo a cabeça. Agora ele estava correndo pelas ruas escuras, entre os raros faróis, talvez já estivesse depois do gasômetro. Elide ia para a cama apagava a luz. De seu próprio lado, deitava, espichava um pé em direção ao lugar do marido, para procurar o calor dele, mas toda vez reparava que onde ela dormia era mais quente, sinal de que Arturo também havia dormido ali, e isso despertava nela uma grande ternura.
Desaparecida
Sumiu uma moça esses dias
que eu nem soube
que me apareceu uma tristeza
e montou-me nos ombros
e me sorriu
e era a moça sumida quem me sorria
(meio sem graça)
mas logo em seguida montou num tremendo alazão e se arrancou.
Não pensei em matar-me
sem forças
sentei-me
simplesmente
e lembrei.
de alguma coisa importante e abstrata
que se ia
um beijo de repente estalou-me
mas não era ela
era um beijo que já não existia
da moça mais tímida do mundo
e por isso eu a amava
ela era isso
muito mais que as outras.
tinha um jeito de esconder-se em minha frente
que a deixava nua como ninguém
era ela
a moça que eu sempre imaginava
a correr com um vestido floral
no meio de um verde imenso
e a sorrir
e a nunca mais ser triste.
que eu nem soube
que me apareceu uma tristeza
e montou-me nos ombros
e me sorriu
e era a moça sumida quem me sorria
(meio sem graça)
mas logo em seguida montou num tremendo alazão e se arrancou.
Não pensei em matar-me
sem forças
sentei-me
simplesmente
e lembrei.
de alguma coisa importante e abstrata
que se ia
um beijo de repente estalou-me
mas não era ela
era um beijo que já não existia
da moça mais tímida do mundo
e por isso eu a amava
ela era isso
muito mais que as outras.
tinha um jeito de esconder-se em minha frente
que a deixava nua como ninguém
era ela
a moça que eu sempre imaginava
a correr com um vestido floral
no meio de um verde imenso
e a sorrir
e a nunca mais ser triste.
Vazio
De um vazio inexplicado
Marcado num fundo branco
Sobrou um tudo vazio
Que se esqueceu no meu peito
Cravado sem faca nem nada
Que lhe desse explicação
De um cego mundo que é novo
Levando uma vela na mão
Que iluminava ao contrário
Calando, sentindo frio
Aumentando ao invés o buraco
Um mundo sem mundo
Vazio.
Nem cheiro, nem urro, nem rasgo
Principalmente nem cor
Que perdem sentido as palavras
E as línguas (sobretudo os versos)
Mundo sem mundo
Um só sentido o diverso.
Abrindo-se rumo ao infinito
Fecha o escuro em mim
De fora pra dentro
Pesado
De fora pra dentro pesado
Fecha o escuro sobre mim
Abatendo-se na forma
Deformando
Inexistindo.
Nem mesmo as crianças têm medo
Nem elas talvez nem percebam
As negras as brancas as feias
Negro, se tornam, escuro.
O Altiplano dos Andes, o Pacífico, o Báltico
Todo e qualquer horizonte
Ou um palmo do nariz
Tornado pra dentro das gentes
E revertido pra fora
Tornado o mundo e tudo mais que o habita,
Vísceras
Escuro.
Um mundo de nossas entranhas
E do Fonseca e da Glorinha
Onde nem nós caberíamos
Elas absolutas
Nem más nem boas, as entranhas
Nem mesmo nem coisa nenhuma
Habitasse sem mais esse mundo
E soberanamente e num silêncio tremendo
Não sei definir no momento
Se só imperava tristeza
Ou se desesperava
Um mundo da minha excrescência
Convivendo com o do teu tormento
A tristeza toda do mundo
Gritada em um só lamento
Repleta do nosso vazio
Do perdido esquecimento
Da estupidez e da esperança
Nossos antolhos e nossos ungüentos
E as coisas nossas nenhumas
Que são a maioria das coisas
Nos dessem a real dimensão
Do resto e do pouco que somos
Frente a nossa escuridão.
Marcado num fundo branco
Sobrou um tudo vazio
Que se esqueceu no meu peito
Cravado sem faca nem nada
Que lhe desse explicação
De um cego mundo que é novo
Levando uma vela na mão
Que iluminava ao contrário
Calando, sentindo frio
Aumentando ao invés o buraco
Um mundo sem mundo
Vazio.
Nem cheiro, nem urro, nem rasgo
Principalmente nem cor
Que perdem sentido as palavras
E as línguas (sobretudo os versos)
Mundo sem mundo
Um só sentido o diverso.
Abrindo-se rumo ao infinito
Fecha o escuro em mim
De fora pra dentro
Pesado
De fora pra dentro pesado
Fecha o escuro sobre mim
Abatendo-se na forma
Deformando
Inexistindo.
Nem mesmo as crianças têm medo
Nem elas talvez nem percebam
As negras as brancas as feias
Negro, se tornam, escuro.
O Altiplano dos Andes, o Pacífico, o Báltico
Todo e qualquer horizonte
Ou um palmo do nariz
Tornado pra dentro das gentes
E revertido pra fora
Tornado o mundo e tudo mais que o habita,
Vísceras
Escuro.
Um mundo de nossas entranhas
E do Fonseca e da Glorinha
Onde nem nós caberíamos
Elas absolutas
Nem más nem boas, as entranhas
Nem mesmo nem coisa nenhuma
Habitasse sem mais esse mundo
E soberanamente e num silêncio tremendo
Não sei definir no momento
Se só imperava tristeza
Ou se desesperava
Um mundo da minha excrescência
Convivendo com o do teu tormento
A tristeza toda do mundo
Gritada em um só lamento
Repleta do nosso vazio
Do perdido esquecimento
Da estupidez e da esperança
Nossos antolhos e nossos ungüentos
E as coisas nossas nenhumas
Que são a maioria das coisas
Nos dessem a real dimensão
Do resto e do pouco que somos
Frente a nossa escuridão.
Menina dos Olhos
Pelo que se assemelham aos céus
Seus olhos
Semeiam em mim uma pálida e confusa insensatez
Vejo
(ou imagino)
Por trás do atmosférico azul
A escuridão de quem anda perdida
O giro assíduo das constelações e dos sistemas
E o girar em torno ao giro do universo.
Essa obstinada sistemática,
dinâmica infinitesimal e infinita
que se erra estraga em volta o transcorrer das vidas
pondo fim, repetindo, ou iludindo os feitos,
Se encerra
Nesse falso azul brilhante
Que me atormenta.
É nesse falso azul que se assemelham aos céus e me atormenta,
Densidade aérea que nos oculta o universo
Onde nunca foram vistas nuvens gris, ou vento, ou trovoada
Mas que serenaram algumas chuvas delicadas,
Eu te passeio e nem sabes.
Nesse universo que te espreita,
Cheio de enormes distâncias
Que se medem pelo caminhar da luz
Pelo passo apressado e expansivo
Dessa senhorinha de desde sempre,
É nesse silêncio
Que eu te sei.
E envelhecerão os céus e os pensamentos
Serão substituídos os belos e as belezas
E a tua carne já desistida
Os teus seios e as outras nuances que aqui não canto
As curvas de um outro poema
Jazem
Já eram
Mas teus olhos que se assemelham aos céus
Permanecerão
Vítimas atentas
Da infinita e eterna sistemática do universo.
E só através deles é que se dará conta
Só por eles
Que teremos a resposta.
Seus olhos
Semeiam em mim uma pálida e confusa insensatez
Vejo
(ou imagino)
Por trás do atmosférico azul
A escuridão de quem anda perdida
O giro assíduo das constelações e dos sistemas
E o girar em torno ao giro do universo.
Essa obstinada sistemática,
dinâmica infinitesimal e infinita
que se erra estraga em volta o transcorrer das vidas
pondo fim, repetindo, ou iludindo os feitos,
Se encerra
Nesse falso azul brilhante
Que me atormenta.
É nesse falso azul que se assemelham aos céus e me atormenta,
Densidade aérea que nos oculta o universo
Onde nunca foram vistas nuvens gris, ou vento, ou trovoada
Mas que serenaram algumas chuvas delicadas,
Eu te passeio e nem sabes.
Nesse universo que te espreita,
Cheio de enormes distâncias
Que se medem pelo caminhar da luz
Pelo passo apressado e expansivo
Dessa senhorinha de desde sempre,
É nesse silêncio
Que eu te sei.
E envelhecerão os céus e os pensamentos
Serão substituídos os belos e as belezas
E a tua carne já desistida
Os teus seios e as outras nuances que aqui não canto
As curvas de um outro poema
Jazem
Já eram
Mas teus olhos que se assemelham aos céus
Permanecerão
Vítimas atentas
Da infinita e eterna sistemática do universo.
E só através deles é que se dará conta
Só por eles
Que teremos a resposta.
Desagravo
Dia desses,
Levei pra casa um poema
Com um monte de babozeira
Liga pra ele não
Naquele dia fiquei bobo (de medo)
E me perdi na sua espera
Que no meu egocentrismo
Esperava mais do que eu sou
Hoje amanhã e depois,
Talvez até Segunda-feira
Irei me levar sozinho
Sentarei naquele canto
Costumeiro canto seu
Esperarei você
Chegando sem me esperar
Encostando do lado esquerdo
Trançando as pernas pra lá
Beijando-me bem no cangote
E mostrando o seu pra eu beijar
Nada de espera passiva
O que eu tinha você vinha
O que é teu
Eu fui buscar.
Levei pra casa um poema
Com um monte de babozeira
Liga pra ele não
Naquele dia fiquei bobo (de medo)
E me perdi na sua espera
Que no meu egocentrismo
Esperava mais do que eu sou
Hoje amanhã e depois,
Talvez até Segunda-feira
Irei me levar sozinho
Sentarei naquele canto
Costumeiro canto seu
Esperarei você
Chegando sem me esperar
Encostando do lado esquerdo
Trançando as pernas pra lá
Beijando-me bem no cangote
E mostrando o seu pra eu beijar
Nada de espera passiva
O que eu tinha você vinha
O que é teu
Eu fui buscar.
Poema de levar pra casa
Corda Bamba
Poema de levar pra casa
Quer que eu leve alguma coisa
uma angústia
um poema
se eu te levasse uma rima
Você me enchia de louros?
E você me envolvia o pescoço
Dava-me um cafuné
Se eu te levo este poema?
Quer que eu leve para casa
Um Quilo de alguma coisa?
Um sabor
Um disparate
Morango com creme de leite
Qualquer coisa que te mate
A Fome,
A saudade,
O deleite?
E se eu te levasse um drama
Ou um filme de comédia
Shakspeare!
E se eu fizesse galhofa
Daquela minha (antiga) tristeza
Seria mais que tragédia,
Um épico além do discurso,
Seria entretenimento
Gozando de mim e da dor?
Se me esboçasse um sorriso
Ou morresse de pena
Já valeria a pena
Chegar a ti outro dia.
E se eu te chegasse vazio
Assim
com as mãos abanando
E se eu não levasse nada
Vazio mesmo
Tristeza?
Você não me entenderia
Chorava
Fazia bico
Brigava por minha alegria
Luta vã.
Pois bem sei que nesse dia
Nada de bom valeria.
E se no dia seguinte
Nada de novo ocorresse
E eu te levasse um atraso
Sem mais nem menos
Mais tarde
Chegasse de cara lavada
Como se não houvesse nada
Sentasse sozinho na mesa
Deixasse escorrer uma lágrima
Comesse a comida fria
Você não compreenderia
Mas deitava sozinha ao meu lado
Naquele dia seguinte.
Também te levei mentira
Desculpas, choro, silêncio
Não era pra esconder mulher
Tampouco mentir por mentir
Mas se em mais outro dia
Não pudesse levar nada
E inventasse o que levar?
E se isso voltasse amanhã
Durante a semana inteira
Eu entrasse em desespero
Caísse na bebedeira
Me perdesse pelos cantos
(medo de voltar pra casa)
Você me receberia?
Cuidava de mim e do porre?
Ou me expulsava a vassoura
Vaso ao vento
Pau de enrolar macarrão
Cuidava de mim e do porre?
Se me desse essa esperança
Eu superava o degredo
Levava até ti um segredo
Amor, medo, carinho, medo
De não poder levar mais nada
De não voltar
De me perder
E já era.
Hoje eu te trago um poema.
Poema de levar pra casa
Quer que eu leve alguma coisa
uma angústia
um poema
se eu te levasse uma rima
Você me enchia de louros?
E você me envolvia o pescoço
Dava-me um cafuné
Se eu te levo este poema?
Quer que eu leve para casa
Um Quilo de alguma coisa?
Um sabor
Um disparate
Morango com creme de leite
Qualquer coisa que te mate
A Fome,
A saudade,
O deleite?
E se eu te levasse um drama
Ou um filme de comédia
Shakspeare!
E se eu fizesse galhofa
Daquela minha (antiga) tristeza
Seria mais que tragédia,
Um épico além do discurso,
Seria entretenimento
Gozando de mim e da dor?
Se me esboçasse um sorriso
Ou morresse de pena
Já valeria a pena
Chegar a ti outro dia.
E se eu te chegasse vazio
Assim
com as mãos abanando
E se eu não levasse nada
Vazio mesmo
Tristeza?
Você não me entenderia
Chorava
Fazia bico
Brigava por minha alegria
Luta vã.
Pois bem sei que nesse dia
Nada de bom valeria.
E se no dia seguinte
Nada de novo ocorresse
E eu te levasse um atraso
Sem mais nem menos
Mais tarde
Chegasse de cara lavada
Como se não houvesse nada
Sentasse sozinho na mesa
Deixasse escorrer uma lágrima
Comesse a comida fria
Você não compreenderia
Mas deitava sozinha ao meu lado
Naquele dia seguinte.
Também te levei mentira
Desculpas, choro, silêncio
Não era pra esconder mulher
Tampouco mentir por mentir
Mas se em mais outro dia
Não pudesse levar nada
E inventasse o que levar?
E se isso voltasse amanhã
Durante a semana inteira
Eu entrasse em desespero
Caísse na bebedeira
Me perdesse pelos cantos
(medo de voltar pra casa)
Você me receberia?
Cuidava de mim e do porre?
Ou me expulsava a vassoura
Vaso ao vento
Pau de enrolar macarrão
Cuidava de mim e do porre?
Se me desse essa esperança
Eu superava o degredo
Levava até ti um segredo
Amor, medo, carinho, medo
De não poder levar mais nada
De não voltar
De me perder
E já era.
Hoje eu te trago um poema.
Auto-retrato
De cores desastradas na retina
tendões relaxados e atentos
um frio permanente na barriga
um coração apertado que ainda explode, eu sei.
De bosta, pasto e serra
de livros e livros
de areia e pampo e guanabara
de uma saudade.
Da sorte imensa, até aqui, no amor
das mais misteriosas moças, cafunés
às vezes pontiaguda fé na solidão
às vezes circo, gargalhada, trapézio, palhaço.
Os conselhos que mais ouço soam em versos
Alguns, mesmo na infância, estalaram em mim com uma voz de bronze
Outros inutilizaram-me, sabotaram-me em regozijo
Os versos mudam os ares e vice-versa.
Hoje cresce um outro irmão e filho
salto no escuro com interstícios de abraços
olhar atento
mais aprendizado do que ensinamento.
Isso é o que resta hoje de mim
e é o que está por vir.
Já almejei um outro, melhor
Mas hoje me conformo com isso que sou.
tendões relaxados e atentos
um frio permanente na barriga
um coração apertado que ainda explode, eu sei.
De bosta, pasto e serra
de livros e livros
de areia e pampo e guanabara
de uma saudade.
Da sorte imensa, até aqui, no amor
das mais misteriosas moças, cafunés
às vezes pontiaguda fé na solidão
às vezes circo, gargalhada, trapézio, palhaço.
Os conselhos que mais ouço soam em versos
Alguns, mesmo na infância, estalaram em mim com uma voz de bronze
Outros inutilizaram-me, sabotaram-me em regozijo
Os versos mudam os ares e vice-versa.
Hoje cresce um outro irmão e filho
salto no escuro com interstícios de abraços
olhar atento
mais aprendizado do que ensinamento.
Isso é o que resta hoje de mim
e é o que está por vir.
Já almejei um outro, melhor
Mas hoje me conformo com isso que sou.
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