quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Outono





Sob minha sombra
Caminho
De dezenas
Centenas
De pequenas
Sombras
Caídas
Da grande sombra
Da árvore.

No tom compartilhado
Mais escuro ou mais claro
Vieses do sol
E do vento
As nossas sombras
Sobre o caminho
Caminhavam.

Sobre a minha
E as demais
Sombras
Tapete voador
Voei uma tarde inteira.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Um cara que mudou minha vida


Teve um cara que foi meu professor da quinta série ao vestibular. Teve um cara que me disse – e eu na quinta série entendi – que todo o valor vem do trabalho e que o lucro era trabalho roubado. Um cara que orientou minha indignação. Que me apresentou o PT. Que foi com a turma da sétima série para Ouro Preto. Num museu pediu para que encontrássemos a cama onde Tiradentes morreu, nos fazendo sair, em disparada, atrás da tal cama, esquecendo da forca.
Um cara que marcou a mim e aos meus amigos. Eu, mais suscetível, fui fazer história por sua influência. Sou professor por sua influência. Comunista por sua influência. Depois esse cara virou meu companheiro de lutas. Construímos sua candidatura à deputado estadual com poucos recursos, mas com muito brilho nos olhos, em 2006. E vencemos. Agora venceremos de novo, com muito mais gente, com muitos mais olhos brilhantes. Não dá pra esconder que esse cara mudou minha vida. Esse cara é Marcelo Freixo. Meu voto no domingo é só mais um capítulo dessa história que segue acumulando vitórias rumo ao socialismo, à alegria, à liberdade.
50.123 é Freixo!!!

Chinfrim


Virou-me de ponta a cabeça
Um nome que de trás pra frente
E vice e versa e tanto faz
Faz, desfaz e se refaz na mente.

Trancou-me no peito uma angústia
De esperá-la nunca chegar
De chegar até ela de longe
Sabendo que não chego lá.

Mas lá de distante ela sabe
Que basta se aproximar
Desconcerta toda uma vida
Tropeço, me perco, na certeza de acertar

Faço até esse poema
Chinfrim
Malabarismo, macumba
Pra que a moça saiba sempre
Que eu morro
Eu morro sim
Se ela se esquecer de mim.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Feitiço de Áquila


         
                                                   No solo es luz que cae
                                         sobre el mundo
                                         La que alarga en tu cuerpo
                                         Su nieve sofocada,
                                         Sino que se desprende
                                         De ti la claridad como se fueras
                                         Encendida por dentro
                                         Debajo de tu piel vive la luna.
                                                                          
                                                                Pablo Neruda




Fim dos dias e das horas e do mundo
Bem emaranhados o espaço e o tempo
O ciclo de milanos num segundo
Rompesse num grande e novo intento

E fosse assim um encontro imediato
Diante a mim a síntese completa
Se não glorifico: estúpido e ingrato
O universo inteiro em sua nova meta

As curvas e os contornos e os enleios
Mesmo em sua face oculta um brilho intenso
As nuances e crateras e os dois seios

E a grande novidade mostra nua
Em cada infinidade o corpo imenso
Sintetiza num só astro o Sol e a Lua

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pernas pro ar ou Tragédia


Duas sensacionais piruetas.
Uma tentativa frustrada.
Nada de rede,
tampouco esperança.
Estatelado.
No chão.
O mais hábil trapezista,
de olhos arregalados,
de alguma forma,
nos deixava uma lição.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Parto

Fundiram-se os sons num único ruído
Intermitente
Mais surdez, que barulho
A sala clara
(Um clarão)
As cores todas em branco
O recém retirado
Pendurado...
Parecia clamar,
O mesmo ruído agudo e intermitente
De todo o mundo
O tempo transfigurado perdia seu tempo
As cordas de minhas sensações esticadas
Rompiam-se...
E continuavam esticando
O recém retirado passou seu olhar por mim
Pendurado...
Não enxergava.
Vislumbrei cada instante daquele  inspirar
Ofegante...
(só perceberia isso na expiração que veria seguinte)
Antes dela,
Uma moça que nem lembrava
Enfurecidamente apertava-me a mão
Largou-a...
Pareceu-me um carinho.
O era (saberia mais tarde)
Toda aquela eternidade antes de expirar
Nos sufocaria
E pelas caras
Um a um sabíamos disso.
Num soco.
Expiramos...
Rompeu-se o umbigo
Cor a cor
Ruído a ruído
Tudo tornou ao que seria
E jamais experimentei
Coisa tão louca.




quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mal me quer mal me quer



Hoje chegou um Bouquet.
Doze rosas.
Lindas flores.
Passando por cima do amor,
pisando nas minhas dores.

Quem dera viessem limpas
daquele erro passado.
Ervas daninhas pra mim.
Comprando os meus maus-bocados.

Arranquei pétala a pétala
Mal me quer, mal me quer.
Jurei meu ódio por ele,
Me refiz,
As desfazendo.

Os talos descabelados
dei ao florista que veio
e foi levando um recado:

Paste-as!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Esgrima ou poema pra ganhar beijo de moça



Golpeio o poema de morte.
Esgrimo contra meus versos.
Duelo.
Pra dar um poema pra ela.

Que do alto da sacada,
agita-me um lenço branco.
Sorri inalcançável,
Enquanto eu não mato o poema.

Linda é a moça do lenço.
Tão linda que até merece
que eu crave na minha poesia
minha adaga, meu reverso.

Ah, mas se a moça soubesse,
que o brilho que ela produz,
alto brilho da sacada,
complica toda minha vida.

Ao mesmo tempo,
que dá ânimo a espada,
Me faz criar outro verso.
Que eu mato logo,
mas na morte perseguida,
recria-se o meu poema.

E nessa luta sem fim,
aos olhos da tal donzela,
eu mato e recrio o poema.
E de novo.
E até o fim.
Só pra provar para a moça
Que eu mereço um beijo dela.

... ou não me amando


Afasta-se de mim um que era outro
E volto a me tornar um ser deixado
Ao largo de um mim mesmo que não encontro
Saída, solução, ciência ou afago.

E vivo e me transijo em meio ao dúbio
Questão pra quem se viu medíocre inato
Torpor, torpor, torpor, nenhum alívio
Um eu fiel ovelha, um outro ingrato.

E o triste é olhar-me assim na estrofe acima
Impresso em menos dor e mais lamúria
Metade de mim sofre e a outra rima.

Seguindo o próprio rastro eu não iria
Achar caminho ou verso em que dirima
Se ela inda me bem ou mal queria.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cinismo


Caiu sobre mim um cinismo, moça
De virar meus olhos pra ti
De querer sentar ao teu lado
Simplesmente
E num silêncio
Longo
Ao teu lado
Dizer-lhe as coisas mais sérias
Que se eu dissesse em palavras
Saía correndo de mim.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dia Internacional da Coincidência




No dia Internacional da Coincidência
Coincidi de te encontrar
Fiz a maior presepada
Valorizando o ocorrido
Falei de mim, do passado,
De coisa alguma
Silêncio...
Já nem lembro.

De nada adiantou,
O filme correu até o meu ponto
Saltei...
Não disse o essencial.
Não te menti tudo que eu tinha
E não pude te encantar
Não prometi nada
Nadinha. (Veja só)
Incapaz de falsear
Da maneira mais sincera
Um mundinho pra nós dois.

Agora presta atenção:
Posso te dar alegria
Ou tristeza
O que você preferir
Eu te darei o contrário
E quando de saco cheio
De eu te enganar por bobagem
Achar que virá alegria
Eu nem te ligarei.

Peço-te em casamento
Largo tudo
Mulher, filho, Faculdade
Mudo para outro canto
E não faço nada disso.
Sexo da melhor qualidade
Cafuné
Compreensão
E Mentira
Mas só da melhor qualidade.

Da maneira mais sincera
Peço para acreditar
Mais nada.
Só isso.
O melhor de mim será seu
De graça.
“A mentira pode ser melhor que qualquer concretude”
As mais belas realidades
Eu mentirei pra você
Também mentirei as mais feias
Sendo o mais sincero possível.

Invento um dia pra nós
Feriado Nacional
Se quiser todo dia eu invento
Um calendário para ti
E até te deixarei
Três dias pro seu namorado.

Nada de dúvidas, insegurança
Sempre mentirei pra você
(pode confiar)
E isso será tão verdade
Quanto todo este poema
Que não veio do vazio
Veio da Saudade
Da tristeza
De mim, veio o poema
Da minha infeliz alegria
Da vontade de te amar
De inventar uma paixão
E intregar-me a mim e a ela
Inventei pra ti um poema
Que é a mais pura verdade.

domingo, 19 de setembro de 2010

Laísla



À Federico Garcia Lorca

Laís,
la isla donde las lunas verdes murren
en lagunas oscuras.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sentença de verdade contra mim


JULGO PROCEDENTE A DENÚNCIA PARA CONDENAR CARLOS ALBERTO LUCIO BITTENCOURT FILHO E RAPHAEL RODRIGUES DOS REIS, COMO INCURSOS NAS SANCÕES DO ARTIGO 65, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI 9.605/98. PASSO A FIXACAO DA PENA.
OS ACUSADOS SAO PRIMÁRIOS E DE BONS ANTECEDENTES, MENORES DE VINTE E HUM ANOS A ÉPOCA DO FATO. PELA COMPLETA DESPREOCUPACÃO COM O CUMPRIMENTO DO "SURSIS" PROCESSUAL, PERCEBE-SE QUE A CONDENACÃO EM NADA IRÁ INCOMODÁ-LOS OU CAUSAR ARREPENDIMENTO, MAS TRARÁ O GALARDÃO DE SEREM PUNIDOS PELO ESTADO "BURGUÊS E REPRESSOR". COM CERTEZA SENTIRAO MAIS CONFORTO DO QUE PREOCUPACAO. "A CULPA É DOS OUTROS!". "O CÁRCERE É A PRIMEIRA ESCOLA DO REVOLUCIONÁRIO". JARGÕES QUE ACOMPANHARÃO OS ACUSADOS COMO MEDALHAS POR SEUS PROCEDIMENTOS.
ASSIM SENDO, FIXO A PENA BASE ACIMA DO MÍNIMO LEGAL, MESMO PORQUE, DO PONTO DE VISTA IDEOLÓGICO, A REPRIMENDA DEIXARÁ DE TER EFEITO PEDAGÓGICO OU RECUPERATÓRIO.
A SENTENÇA, TODAVIA, NAO PODE FICAR INCOMPLETA. NO MAIS, O MONUMENTO ATACADO ESTÁ SITUADO NO CENTRO DA CIDADE, EM LOCAL DE GRANDE MOVIMENTO. FIXO A PENA BASE EM SETE MESES DE DETENÇÃO, PARA CADA ACUSADO, PENA ESTA QUE TORNO DEFINITIVA, À FALTA DE OUTRAS ATENUANTES. A PENA DE PRESTACAO DE SERVICOS JÁ SE VIU INADEQUADA. NÃO CUMPRIRAM NO REGIME DO "SURSIS PROCESSUAL". IMPOR PENA PRISIONAL SERIA EXTREMAMENTE DELETÉRIO. IMAGINE OS EFEITOS PREJUDICIAIS QUE OS ACUSADOS CAUSARIAM EM UMA PRISÃO, SOBRE A PERSONALIDADE DE INGÊNUOS ASSALTANTES, SEQUESTRADORES, TRAFICANTES E HOMICIDAS, QUE AINDA PODEM SE RECUPERAR.DAI PORQUE SÓ VEJO COMO OPORTUNA A LIMITACÃO DE FINAL DE SEMANA. ALIÁS, É BEM POSSÍVEL QUE, AO SEREM SUBMETIDOS A PALESTRAS, OS ACUSADOS VENHAM A ENCONTRAR CONFERENCISTAS DA MESMA LINHA IDEOLÓGICA, OU QUANDO EM ATIVIDADES EDUCATIVAS VENHAM A DESENVOLVER DOTES PICTÓRIOS MODERNOS, EM CAMISETAS. SUBSTITUO A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE, FORMA DOS ARTIGOS 43, INCISO VI, C/C ARTIGO 44, INCISOS I, II E III, TODOS DO CÓDIGO PENAL, IMPONDO A PENA RESTRITIVA DE DIREITO DE LIMITACAO DE FINAL DE SEMANA, PERMANECENDO OS ACUSADOS, EM CASA DE ALBERGADOS POR CINCO HORAS DIARIAS. CONDENO CADA ACUSADO A MULTA DE DEZ DIAS-MULTA. FIXO O VALOR DO DIA-MULTA EM 1/5 (UM QUINTO) DO SALARIO MÍNIMO VIGENTE À ÉPOCA DO FATO. CONDENO OS ACUSADOS AS CUSTAS PROPORCIONAIS. TRANSITADO EM JULGADO, LANCE-SE O NOME DOS ACUSADOS NO ROL DOS CULPADOS E EXPEÇA-SE CARTA. FIXO, DESDE LOGO, O REGIME ABERTO, PARA A HIPÓTESE DE REVOGACAO DO BENEFÍCIO CONCEDIDO. CIENTE O MINISTERIO PUBLICO E A DEFENSORIA PUBLICA.INTIMEM-SE OS ACUSADOS PESSOALMENTE. P.R.I. RIO DE JANEIRO, 14 DE MAIO DE 2004.

Pássaros azuis


Quando suas mãos pegam fogo,
Não adianta levantá-las para o céu,
Pois os pássaros azuis irresponsavelmente sobrevoarão seus pesadelos.

Se, pegam fogo as mãos –
já sentiram-se assim? –
Torna-se impossível limpar uma lágrima
ou tocar o coração de alguém,
sem que os pássaros azuis arrevoem os maus presságios.

Quando pegam fogo as mãos,
os gestos mais delicados,
deitar a mão sobre uma flor de um jardim,
de uma mulher,
podem contagiar de revoada irresponsável,
de rasantes,
e fúria.

Quando suas mãos pegam fogo...
Gire-as, bata-as vertiginosamente.
Espantalhe os pássaros,
duele à morte com os inimigos,
imponha-se aos maiores riscos,
ao perigo de renascer,
sob novos ventos.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Façanha


As realizações
cabem ao prefeito.

Ao poeta,
as façanhas.

Quando Manoel de Barros irrealiza uma pedra,
e Rimbaud vai traficar armas na África,
ou Pessoa confessa em linha reta seus vexames.

Quando Vinícius alcovita a morte,
e Maiakovski se mata.

Quando Bandeira se enamora de um porquinho-da-índia,
e Drummond desdenha a Máquina do Mundo que a ele se abriu,

Não estamos diante de outra coisa.

As realizações são pra prefeitos.

Here comes the sun


Lá vem o sol.
Pela fresta ele sussurra pra minha escuridão,
sem despertá-la,
ele me chama pra outro dia.

Lá vem o sol.
Veio iluminar seus olhos e pensamentos
e torná-los céu azul e maré,
mnha flor delicada.

Lá vem o sol.
Ele iluminou a folha desse poema,
Que resistirá à nuvens e trovoadas,
aos maus tempos que virão,
minha delicada flor.

Transporte Público


Dois poemas de caminho,
em pé no ônibus cheio,
perderam-se.
Sem anotação.

Quantos desses todos os dias,
por fruto da lotação,
não perdem-se em descaminhos.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Proparóxitonos ou sobre esdrúxulos


Vamos laurear os éticos,
Os cáusticos,
Os cínicos, os córsegos,
Os cônegos, réprobos,
Os mórbidos, os fáticos
Os rênitos e os rásteros
Os plásticos e os fúnebres,
Os Mônticos e os líricos
Sobretudo os cáusticos e os líricos
No Zênit caótico.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Adeus. memória, tempo



E se o tempo estanca?
E se os olhos mudos permanecem assim,
em adeus?

E se as vontades de querer ficar-partir,
fossem vistas,
em foto,
instantâneas e pra sempre?

E se os olhos permanecem assim,
Olhando?
A vida parada com o tempo.
E se?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Catarse


Catarse,
aprendizado pelo espanto;
susto com asas.
Liga de encanto e desencanto;
Riso em pranto.