terça-feira, 9 de agosto de 2011

Fumaça

                                                    à memória de Daniel do Vale

Como nunca eu sempre fiz

num te reconfortarei de coitado.

Ah, irmão meu...


Ouvi, as últimas palavras que déste...

ainda me soaram sem nenhuma coitadisse.

Ainda pareceu aquela esgrima ancestral

que sempre nos levou além.


Há muitos vivos muito mortos de explicação.

Suas vidinhas não suportam um suicida...

o suicídio pra vidas miseráveis, é incabível.

Soaria não como um gran finale

Mas como uma confissão.


Ah meu irmão...

fostes grande diante do infinito e do eterno.

Nessa proporção,

O que são 30, 50, 100 anos a mais?


Não duvido de que se fosse possível (foi?)

Seguiste com um risinho de beira, vaidoso,

no cortejo do seu caixão.

Repleto de amigos e chegados de todo tipo

em reverência desvergonhada.

Em desespero, lágrimas, vômitos...

em amor, em luta!


Uma confissão quase mórbida... mas sob graça:

a última vez que ti vi... foi sob um pano branco

empurrado por uma rampa sem rosto... já longe.

Quando passavas morto sob esse pano não te ergui meu último olhar.

Senti, no entanto, o cheiro.

Ia ficar orgulhoso: o efeito do cravo sistemático através dos tempos

Deu cheiro de vida ao seu cadáver.


Ah, meu irmão...


De fato, cessaste.

Fica clara assim a nossa mesma constituição

da matéria que é feita a fumaça.

E assim, como mesmo a matéria da fumaça,

segue desamparada por aí

a matéria densa dos bons e dos maus momentos:

ações, pensamentos, risos, lágrimas...

desamparada e etereamente seguirão

no misterioso labirinto em rio da memória.

Um comentário:

  1. é tão carnal o que está escrito...uma boa moça ja me havia dito o quanto era lindo!
    Cada detalhe vivido retira do luto o rosto do irmão, do amigo...outro dia cheguei a pegar o telefone para falar com ele, lembrei-me que jamais faria isso novamente.Percebo que a tristeza vem caindo lentamente, sobre cada pedacinho do corpo e da mente, diante da impossibilidade da troca. Mas qualquer coisa mais que pudéssemos trocar é tão grande e infinito quanto o que já trocamos.
    Desculpe fazer desse comentário um desabafo meu, é que me faltam palavras para elogiá-lo e não sou capaz de expressar os sentimentos que ele despertou. Queria apenas dizer que nosso irmão não passou e cada um de nós faz com que ele se refaça nas graças de nossas vidas.
    A esse amigo ficam reservadas eternas, intensas, ternas lembranças e despedidas. E ao escritor, meu profundo agradecimento por lhe dar mais vida e cor!

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