sábado, 23 de julho de 2011

Quando tomba no front um companheiro


                                                                            A Paulo Piramba

A notícia
não vem em telegramas.
Vem num zunido atônito:
um companheiro tombou no front.

Não há qualquer sinal de trégua.
Passam zunindo sobre nossas cabeças rajadas de ameças atrozes
e todas as ciências de endurecer corações seguem em açoite.

Mas há uma mensagem:
um companheiro tombou, um dos nossos.
E os olhos dos que seguem entrincheirados rangeram,
os dentes trincaram.
Então, o mais silencioso dos estrondos revolveu a matéria profunda
dos punhos e dos sonhos.

Um companheiro tombou no front.
Um desejo sereno de vingança correu na saliva dos entrincheirados.
Avançar! Avançar!
Antes que outros olhos se cerrem sem ver.
Avançar! Avançar!
Fazer findar as trincheiras e os inimigos!
E na redenção vitoriosa dos vivos
Redimir nossos mortos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

SMS

Há uma moça
que veio caminhando
com passos de silêncio e olhos de sorriso.

Através de um tempo
sem ontem nem amanhã,
assim como a lua em seu destino.


Assim como a lua em seu destino,
raiou um amor em mim.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma defesa (quase) científica da utopia



Há de se ter uma parcela de ilusão em nossas vistas?
Curto circuito entre a nossa imensa finitude
E o eterno e o infinito?
Entre o “Isso”[i] e o eu?
Sempre?

Sim.
Há!
Sempre!

A maioria, por exemplo, se ilude
Dedicando-se mais ao trabalho do que ao amor...
Um percentual muito elevado deposita todas as suas ilusões
no mercado futuro da Divina Providência.
E há os plenamente satisfeitos:
os plenamente iludidos.

Sem ilusões,
Teríamos uma humanidade suicida;)

Como lustrar, então, nossas ilusões,
para que brilhem?

Utopia.

As horrendas paranóias
de um Hitler, de um Ford, de um Geisel...
e de outros stálines, híteleres, fórderes, gáiseles...
fazem parte da entropia[ii],
não são utopia.

A utopia tem forma de flor e
cheiro de sereno.
Sempre será abraço, cantiga, cafuné.
Substituamos a ilusão pela utopia!
Utopia ou Barbárie!


[i] Id – Freud.
[ii] Perda de energia; nesse caso histórica-humana. Anti-utopía.