segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Triunfo



Num deslocameto súbito
rolaram pedras e lágrimas
e instintos nebulosos e violentos assomaram-se
a um armegedon fulgurado nos olhos fulgurantes.
Dos sorrisos uivaram dor.
Feneceram, então, as últimas esperanças
sepultou-se as mãos dadas,
podadas as floradas na raiz,
jaziam já murchas e contritas suas cores.

A plateia
em seu gosto sádico pelo trágico
convalescia em risos secretos.
Como que se continuasse o trabalho do equívoco
como se fosse as suas consequências mesmas
em orgia
em glória
em vingança.

Mas na luta impiedosa
onde sangue e rícino e bili
eram sorvidos com gosto.
Do convívio tão intenso e íntimo com a vergonha
surgiram as sem vergonhas trocas de carinho.
Como da escassez um cacto,
como o ato canibal de um náufrago.
Ressurgiu um amor enodeado e visceral.
Um desespero, um grito
Uma paixão labiríntica e turbulenta
Um pesadelo.

Um amor, no entanto.
Nada teatral-farsesco,
shakesperiano.
Um amor camelo, cacto,
Brutal.
Com as unhas gastas e as pontas dos dedos em carnevivas
De dias de escavação sem pá e sem auxílio
Em bruscas paredes que diária e subtamente soerguiam-se do nada em seu caminho.
Amor bravura, amor fatal.

E em catarse
Esse amor em riste e frágil
Tolo e bravo
Enodeado por completo e puro
Que de tão envergonhado expõe-se nu
Estoura!
E enlameia tudo em volta de amor
Escarnecendo, imundando
os limpos e bem comportados
os certos e intrôpegos,
as normas e os normais
e os otários.

E num rasgado de um trompete marcial
um hino fúnebre de vida anuncia:
há surgido o amor eterno.
Ajoelhem-se diante do único e possível amor verdadeiro!
Ele triunfou!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Fumaça

                                                    à memória de Daniel do Vale

Como nunca eu sempre fiz

num te reconfortarei de coitado.

Ah, irmão meu...


Ouvi, as últimas palavras que déste...

ainda me soaram sem nenhuma coitadisse.

Ainda pareceu aquela esgrima ancestral

que sempre nos levou além.


Há muitos vivos muito mortos de explicação.

Suas vidinhas não suportam um suicida...

o suicídio pra vidas miseráveis, é incabível.

Soaria não como um gran finale

Mas como uma confissão.


Ah meu irmão...

fostes grande diante do infinito e do eterno.

Nessa proporção,

O que são 30, 50, 100 anos a mais?


Não duvido de que se fosse possível (foi?)

Seguiste com um risinho de beira, vaidoso,

no cortejo do seu caixão.

Repleto de amigos e chegados de todo tipo

em reverência desvergonhada.

Em desespero, lágrimas, vômitos...

em amor, em luta!


Uma confissão quase mórbida... mas sob graça:

a última vez que ti vi... foi sob um pano branco

empurrado por uma rampa sem rosto... já longe.

Quando passavas morto sob esse pano não te ergui meu último olhar.

Senti, no entanto, o cheiro.

Ia ficar orgulhoso: o efeito do cravo sistemático através dos tempos

Deu cheiro de vida ao seu cadáver.


Ah, meu irmão...


De fato, cessaste.

Fica clara assim a nossa mesma constituição

da matéria que é feita a fumaça.

E assim, como mesmo a matéria da fumaça,

segue desamparada por aí

a matéria densa dos bons e dos maus momentos:

ações, pensamentos, risos, lágrimas...

desamparada e etereamente seguirão

no misterioso labirinto em rio da memória.