Aos olhos do Infinito e do Eterno
sob grandes auspícios
de encontros e abraços
entre irmãos e amigos.
Diana Aguiar e Daniel do Vale,
das mãos de um embriagado sacerdote,
de um sorriso ateu,
recebam,
em forma de porrada,
de saculejo,
as mais grandiosas e patéticas bençãos.
Firmeza amigo
ao
domar e atiçar
a alma instigada de mulher
que se se estilhaça,
já era.
E que, portanto, merece a todo momento um cheiro
e um entendimento, principalmente.
Amiga,
é preciso lavar muitas vezes
para se retirar a nódea amarga
que fica
dos dias e amores que amargam.
Se posso lhe dar um conselho:
nunca poupe esse rapaz.
Nesse lar,
acasalem-se apoteoticamente
dancem espremidos entre os móveis
Muito vinho, muito vinho!
Música!
E silêncio.
Não iludam-se com a eternidade.
Mortais,
vivam furiosamente os dias que lhes restam!
Amaldiçoado seja
todo obstáculo no caminho do amor!
Amem.
Pode beijar a noiva.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
SEIS OU TREZE COISAS QUE EU APRENDI SOZINHO
2.
Com cem anos de escória uma lata aprende a rezar.
Com cem anos de escombros um sapo vira árvore e cresce por cima das pedras até dar leite.
Insetos levam mais de cem anos para uma folha sê-los.
Uma pedra de arroio leva mais de cem anos para ter murmúrios.
Em seixal de cor seca estrelas pousam despidas.
Mariposas que pousam em osso de porco preferem melhor as cores tortas.
Com menos de três meses mosquitos completam a sua eternidade.
Um ente enfermo de árvore, com menos de cem anos, perde o contorno das folhas.
Aranha com olho de estame no lodo se despedra.
Quando chove nos braços da formiga o horizonte diminui.
Os cardos que vivem nos pedrouços têm a mesma sintaxe que os escorpiões de areia.
A jia, quando chove, tinge de azul o seu coaxo.
Lagartos empernam as pedras de preferência no inverno.
O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas.
Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele vagando por escórias...
A quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso.
Caracóis não aplicam saliva em vidros; mas, nos brejos, se embutem até o latejo.
Nas brisas vem sempre um silêncio de garças.
Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes.
Uma árvore bem gorjeada, com poucos segundos, passa a fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
Quando a rã de cor palha está para ter — ela espicha os olhinhos para Deus.
De cada vinte calangos, enlanguescidos por estrelas, quinze perdem o rumo das grotas.
Todas estas informações têm soberba desimportância científica — como andar de costas.
Genialíssimo Manoel de Barros
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Tragédia em três compassos
Tragédia em três compassos
Rodolfo! Rodolfo! Corre aqui!
Esbaforido:
Que foi querida?
Aquele não é o Brandão? – apontando para um sujeito maltrapilho que aparecia no televisor.
Ora essa. Gritaste-me como se morresse, para ver o Brandão na TV?
Mas diz pra mim, é ou não é o Brandão?, insistiu.
Se for... que lástima.
Sabia que aquele era o brandão, mas tamanha curiosidade não se justificava. “Onde já se viu, tanto afã pelo Brandão?!?”. Mas a verdade é que estava irreconhecível. “Logo ele, uma noiva!?!”. Barba: duas vezes por dia. Padaria: terno e gravata, mesmo nos fins de semana.
O resto já se pode imaginar. Segundo compasso: paixão e traição. Terceiro compasso: crime passional.
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